Mantendo a temática dos rios, desta vez fomos até Ul para percorrer, e no meu caso conhecer, o Núcleo Museológico de Ul. Na companhia do Francisco lá fomos predispostos a calcorrear um trilho vocacionado para praticantes de “trails” marcado com o número 2 a azul.

O trilho segue pela margem direita do Rio Antuã, passando por vários núcleos de moinhos, em locais de grande beleza. Fazia-se sentir o frio nas zonas mais sombrias, mas esperávamos que, a qualquer momento, o Sol conseguisse penetrar o arvoredo.

Uma subida longa e mais íngreme “acordou-nos” da, até aí, aparente facilidade do percurso. Algumas zonas mais enlameadas ou escorregadias também nos foram alertando que era melhor ter alguma atenção ao caminhar, como se veio mais tarde a provar.

Passámos a ponte dos dois rios, local onde o Rio Ul desagua no Rio Antuã, mas mantivemo-nos na mesma margem e, assim, continuámos a caminhada. Desde o início do percurso apenas tínhamos passado por um pequeno grupo, aquando da subida mais íngreme. De resto ninguém e só o ruído da água a correr e o cantar dos passarinhos nos foram fazendo companhia.

Depois chegámos a nova ponte, onde o percurso inverte o sentido na margem oposta. Após uma calorosa recepção por parte de dois canídeos, ávidos de darem uma dentadinha nas nossas canelas, lá atravessámos a ponte. Decidimos nessa ponte ir visitar o Santuário da Senhora da Ribeira, fora do percurso, e aí começou uma boa aventura.

Por falta de outra sinalética fomos atrás do percurso marcado como “trail 1” que nos enfiou numa linha de água. E aí começou a acção. Saltar pelas pedras, subir e escorregar pela encosta abaixo para evitar obstáculos e para sair ou regressar à ribeira, até que esta estreitou de tal maneira que nos obrigou a andar aos saltos sobre pedras molhadas e escorregadias e mesmo a equacionar entrar na água. Decidimos que a situação começava a ser arriscada, pela possibilidade de queda nas pedras e aproveitámos o que parecia ser uma saída encosta acima para abandonar a ribeira.

Foi o melhor que fizemos e, após subir um bocado, pudemos aproveitar um estradão dos madeireiros, embora como muita lama, para chegar a um ponto onde foi mais fácil de atravessar a ribeira e daí chegarmos ao dito santuário. Este tem uma capela datada de 1611 perdida lá no meio do monte.

Regressámos à ponte mas agora por um estradão sem obstáculos.

Depois da ponte voltámos a seguir o “Trail 2” que seguiu por estrada, ainda algum tempo, e depois iniciámos uma descida acentuada ao rio. Começou aqui uma sequência de subidas e descidas, ora afastando-nos do rio, ora aproximando-nos do dito.

Também começou o desgaste físico da jornada. Ora se descia, ora se subia e parecia que o trilho era infindável. Menos proximidade ao rio, menos beleza no percurso, mas mais exigência física e ainda muitos quilómetros pela frente.

E tudo ia correndo lentamente até que uma descida enlameada, e a qual abordei com todo o cuidado, me fez cair desamparado em direcção ao rio, uns 3 a 4 metros mais em baixo. Mal meti o pé no que me pareceu ser o melhor lugar escorreguei e, ao tentar procurar um segundo ponto de apoio, meti o pé em chão falso composto por silvas e folhas e fui projectado trilho fora.

Sinceramente não tive tempo para me assustar, penso que o Francisco se terá assustado mais do que eu ao ver-me a rolar encosta abaixo em direcção ao rio. Mas por sorte aterrei de papo num patamar uns 2 metros abaixo sobre as silvas e sem acertar em qualquer pedra. Uns dois metros mais abaixo esperavam-me as águas do rio e provavelmente um final menos feliz.

Com algumas marcas das silvas numa mão e cara lá consegui sair do local, com apoio do Francisco, e felizmente sem nada de grave.

Recuperado, lá seguimos caminho com mais umas subidas e descidas até chegarmos à ponte dos dois rios. Nesse ponto passámos a seguir o Rio Ul, o que fizemos até ao núcleo de moinhos de Ponte do Castro.

Abandonámos aí o percurso que vínhamos a seguir e, com recurso ao GPS, regressámos ao Rio Antuã. Agora pela sua margem esquerda chegámos ao Núcleo Molinológico de Ul.

Bonito, duro e em alguns pontos algo arriscado, atendendo à muita humidade, lama, folhas caídas e irregularidade dos trilhos.

Alberto Calé

 

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