


Caracterização do Castelo de Linhares da Beira
O Castelo de Linhares da Beira ou, simplesmente, Castelo de Linhares, como também é denominado, localiza-se na freguesia de Linhares da Beira, concelho de Celorico da Beira, distrito da Guarda, região do Centro, sub-região das Beiras e Serra da Estrela.
Situa-se num cabeço rochoso num contraforte a Noroeste da Serra da Estrela, em posição dominante sobre o vale do Rio Mondego. A sua importância estratégica decorre da sua localização, na linha de penetração que, de Castela, chegava a Coimbra e a Lisboa.
A primitiva ocupação do local poderá remontar a um castro pré-histórico, sobre cujos restos, possivelmente, ter sido erguido um castelo, pelos Túrdulos (c. 580 a.C.) denominando-se “Lenio” ou “Lenióbriga”. Quando da romanização a fortificação terá sido reedificada, sendo vizinha à estrada romana que ligava Conímbriga ao nó viário da Guarda. O mais plausível, entretanto, é que a toponímia “Linhares” tenha paralelo com a povoação de “Liñares” no vizinho reino de Castela, à época da Reconquista Cristã da região.
Destruído no século VIII pelos Muçulmanos, a região foi inicialmente conquistada pelas forças de Afonso III das Astúrias (c. 852-910), numa das presúrias daquele monarca que conquistaram o Porto (868) e Coimbra (878). À época, o soberano determinou a reedificação do Castelo de Linhares (900). Pouco depois a região voltou a cair em mãos muçulmanas.
Alguns autores questionam se a Linhares mencionada entre outras povoações na concessão de um foral sem data, pelo rei Fernando I de Leão (1016-1065), seria esta povoação na Beira, ou a homónima, no Douro.
Admite-se, ainda, que os muçulmanos aqui tenham erguido uma fortificação, pois a tradição local refere que as gentes de Linhares teriam destruído um castelo mouro cujo senhor se denominava Zurar. Deste nome teria derivado o topónimo Azurara, primitiva denominação de Mangualde.
Sancho I de Portugal (1185-1211) outorgou foral à vila em 1186, seguindo o modelo de Salamanca / Numão. No contexto das hostilidades entre Afonso IX de Leão e Castela (1252-1284) e D. Sancho I pela posse da região, sendo alcaides dos castelos de Linhares e de Celorico da Beira, respectivamente, os irmãos Rodrigo e Gonçalo Mendes, encontrando-se Gonçalo cercado em Celorico por forças de D. Afonso IX em 1198, acorreu Rodrigo com as gentes de Linhares em auxílio do irmão, logrando vitória sob a invocação de Nossa Senhora dos Açores, em devoção a quem se ergueu uma Capela a meio caminho entre ambas as localidades, e se realiza, anualmente, uma romaria a 3 de Maio.
Embora se desconheça a primitiva configuração do castelo, acredita-se que tenha apresentado traços do estilo românico, com a Torre de Menagem isolada no interior da Praça de Armas e cerca envolvente adaptada ao terreno.
As “Inquirições” de 1258, sob o reinado de Afonso III de Portugal (1248-1279), dão conta de que os “homens de Satao” eram obrigados à “anúduva” (auxílio na reparação de estruturas militares) dos castelos da Guarda e de Linhares, o que demonstra, a par da importância estratégica deste último no quadro defensivo do reino à época, que lhe estavam sendo procedidas obras.
Sob o reinado de Dinis I de Portugal (1279-1325), à semelhança do registado em outras fortificações do reino, uma nova campanha construtiva teve lugar em Linhares. Este soberano doou os domínios da vila e do seu castelo a seu filho natural, Fernão Sanches, que fez erguer um paço junto à Igreja de Santa Maria, destruído em finais do século XIV.
No contexto da Segunda Guerra Fernandina (1372-1373) no início de 1373 forças castelhanas sob o comando de Henrique II de Castela (1369-1379) penetraram pela raia da Beira e, na marcha de Almeida para Viseu, assediaram e conquistaram Linhares e o seu castelo, seguindo de Viseu a Lisboa.
Posteriormente, no contexto da Crise de Sucessão de 1383-1385, e seguindo o exemplo de grande maioria da nobreza do reino, o alcaide de Linhares, Martim Afonso de Melo, tomou partido por Beatriz de Portugal. Conquistada pelas forças do Mestre de Avis, este entregou o senhorio da vila a Egas Coelho, fidalgo de sua confiança (14 de Agosto de 1384), logo sucedido por Martim Vasques da Cunha que se iria destacar, à frente dos “homens bons” de Linhares, na batalha de Trancoso, na Primavera de 1385.
Com a paz, o castelo perdeu a sua função estratégica, dele não existindo notícias até ao século XVII, quando foi instalado o relógio público na sua torre.
Em ruínas, o castelo foi classificado como Monumento Nacional pelo Decreto nº 8.201, publicado no Diário do Governo, I Série, nº 120, de 17 de Junho de 1922.
A ZEP / Zona “non aedificandi” encontram-se definidas por Portaria de 28 de Maio de 1971, publicada no Diário do Governo, II Série, nº 141, de 17 de Junho.
A intervenção do poder público materializou-se a partir da década de 1940, através da acção da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), estendendo-se pela década seguinte. Os trabalhos então procedidos ressentiram-se da falta de pesquisa arqueológica preliminar, tendo sido removido entulho de seu interior e reconstruídos os panos de muralha, particularmente toda a cerca a Norte do recinto inferior. Este troço Norte da cerca não corresponde à planta executada por João de Almeida, onde se verifica que este troço avança mais para Norte, o que é também observável “in situ“, diante das fundações de uma estrutura murária quase paralela ao pano actual. Portanto, poder-se-á deduzir que este recinto possuía uma área maior. Com relação às torres, procedeu-se à reconstrução do seu interior, o coroamento com merlões e a reconstrução das coberturas, com telhado de quatro águas.
Numa campanha construtiva mais recente renovaram-se as escadarias metálicas, protegeu-se a parte interna do adarve com guardas e renovou-se a organização interna das torres.
Na Torre de Menagem encontram-se informações sobre o castelo e sobre o património da Aldeia Histórica de Linhares da Beira. Há também um espaço multimédia, com um simulador de parapente que permite explorar a riqueza natural da paisagem entre Linhares e Celorico da Beira. Tem, ainda, um miradouro virtual que apresenta informações sobre a paisagem envolvente.
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